Neurociência e o Arte no currículo

08 de Janeiro de 2018 - 08h45
Bernadete Mª Lippert Strassburger

O conhecimento produzido pela neurociência no que tange à criança pequena trouxe novos paradigmas para a educação infantil. Entre o período da vida intrauterina até os 7 anos de idade, as atividades que ocorrem para a formação do cérebro e seu desenvolvimento são intensas. Na 20ª semana de gravidez, tem início a sinaptogênese, isto é, um grande crescimento de sinapses (região de comunicação dos neurônios). A partir daí, ocorre um grande aumento de sinapses que se mantém até os 7 anos. Esse aumento inicia-se nas zonas do cérebro que recebem as impressões sensoriais e terminam no córtex cerebral, onde se dá a atividade do pensamento. Isso significa que as experiências com os sentidos estão intimamente ligadas ao desenvolvimento do pensamento e que as sinapses se consolidam pelas experiências contínuas que a criança vivencia. A percepção (pelos cinco sentidos) e o movimento cognitivo. Isso significa, que a criança tem uma grande capacidade de responder ao que está presente nos contextos em que ela vive.

Na infância, são “centenas de novas impressões a serem registradas”, o que acontece por meio da consolidação de sinapses e formação de memórias. Conforme apontam a neurociência e a antropologia, um período em que se desenvolve a função simbólica. Segundo Wallon (1942), a emoção é a primeira realidade compartilhada pelo adulto e o bebê. Essa ideia prevalece e é, atualmente, constatada pelas descobertas da neurociência. Simbolizar diz respeito à capacidade do ser humano de substituir ou representar por símbolos as percepções, ideias, sentimentos, intuição e vivências. Graças a essa capacidade, podemos desenvolver pensamentos complexos, formar conceitos, categorizar, analisar, confrontar, decidir. Podemos, também, inventar, inovar, criar.

O desenvolvimento da função simbólica é possibilitado pelas artes, pelas ciências e pelas vivências culturais. Na evolução da espécie, o desenvolvimento da capacidade humana de simbolizar esteve muito presente e, com o surgimento do registro gráfico, provocou uma “revolução criativa” há cerca de 30 mil anos. Podemos verificar isso nas artes rupestres, visto que elas corroboram a nossa tendência de criar símbolos representativos. Partindo das ideias apresentadas, entendemos a escola como um espaço de cultura e como um palco em que as emoções configuram as formas de interação e determinam a formação de memórias, tanto na aprendizagem das crianças, como no exercício da docência. A criança pequena dedica muito de sua atividade cerebral a formar redes neuronais, isto é, desenvolver áreas do cérebro recém -entradas em funcionamento. Assim, o currículo da educação infantil deve contemplar o desenvolvimento das estruturas de percepção, atenção, memória, imaginação e função simbólica. Assim é com a música, com o ato de desenhar diariamente e, também, com a forma de ensinar o conhecimento formal. Ana Mae cita: A ARTE é um rio cujas águas profundas irrigam a humanidade, que diz respeito à interioridade de cada ser. A música mobiliza a emoção, formam memórias e causa relaxamento.

O desenho é, por excelência, a forma de expressão simbólica da criança. Assim, desenhar todos os dias é parte importante do currículo. Os desenhos das crianças devido à experimentação de texturas, espaço, formas e narrativas demonstram o grau de desenvolvimento e estrutura mental, suas predisposições, seus sentimentos, o seu raciocínio, a imaginação, a percepção, o domínio motor, além de sua capacidade criadora. Como se pode observar na ilustração (abaixo, na página).

Para o desenvolvimento das funções simbólicas e da imaginação, a criança precisa exercitar diariamente áreas específicas do cérebro. A imaginação também é um fator de regulação da atenção e um componente essencial da motivação para estudar. Do desenvolvimento adequado da imaginação dependem o domínio posterior da escrita e a aprendizagem da matemática e das ciências. Exercícios diários da imaginação preparam as crianças para a vida, não apenas para o percurso escolar que elas farão.

O uso da imaginação já é, e será cada vez mais, um requisito da vida nas próximas décadas. O desenvolvimento da imaginação é fundamental no desenvolvimento da capacidade de adaptação a realidade e, igualdade, a dinâmica das mudanças aceleradas e na cultura de nosso tempo.



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