A imagem corporal dos adolescentes: a busca pelo corpo perfeito

20 de Fevereiro de 2016 - 08h34
Fabiani de Souza Kaciava

A adolescência é uma fase do desenvolvimento do sujeito que acarreta muitas transformações, sendo uma das fases onde a questão corporal passa a adquirir muita e, até excessiva importância, pois findada a infância, o agora adolescente precisa elaborar não apenas o luto dos pais da infância, mas o luto pelo corpo infantil, que agora está criando forma, mudando. E diante dessa mudança, o adolescente passa a ter momentos de angústia em relação ao seu corpo.

Frente a essas questões próprias da fase da adolescência, onde passa haver uma dificuldade de fixar uma imagem nesse corpo em transformação, há outros obstáculos impostos aos adolescentes, que é a demanda excessiva do social, da mídia em relação à perfeição física, onde a magreza é supervalorizada.

Campagna e Souza (2006) referem que nos dias de hoje, o adolescente diante de uma propaganda que tem uma modelo muito magra, perfeita aos padrões de beleza impostos pela sociedade, não assimila que aquela modelo famosa, que está magra, possa estar com algum problema e que muito menos não é perfeita, pois a intensidade com que os meios de comunicação vêm atingindo os adolescentes faz com que estes sujeitos, confusos diante de tantas transformações, à procura de uma identidade, incorporem aquela modelo extremamente magra, sem ser simbolizado.

Desta forma, o adolescente diante das transformações no seu corpo, e em conflito com sua identidade, encontra nas modelos uma referência para sua identidade, ou seja, a adolescente passa a idealizar aquelas modelos magras e, o adolescente aqueles modelos musculosos, iniciando então, uma busca incessante pelo corpo ideal, pois pensam que se ficarem com um corpo igual o das modelos terão um reconhecimento, uma identidade.

Essa insatisfação com a imagem e a busca incessante pelo corpo ideal, faz com que muitos adolescentes sintam-se insatisfeitos e passem a tomar anabolizantes para criar músculos, tenham uma obsessão por academia, recorram a cirurgias estéticas, e desenvolvam transtornos alimentares, tais como: bulimia, anorexia e a vigorexia.

Para Fernandes (2006), a Bulimia Nervosa surge em decorrência de uma dieta para emagrecer, desta forma, pode ocorrer o vômito autoinduzido, cuja prevalência é de 90 % dos casos, e também o uso de laxantes, diuréticos e outras drogas, sendo denominada bulimia do “tipo purgativo”. A bulimia do tipo não purgativo se dá por meio de dietas, jejuns e exercícios.

O tratamento da bulimia, bem como, de outros transtornos alimentares deve ser conduzido por uma equipe multiprofissional. A necessidade de internação nos casos de Bulimia Nervosa está relacionada com a presença de complicações médicas-psiquiátricas e ela é diferente da anorexia nervosa, pois neste transtorno os pacientes conseguem manter o peso dentro do limiar de normalidade. 

Já em relação à anorexia, Fernandes (2006) relata que este transtorno tem como características principais a busca por um corpo esbelto e o medo de engordar, por mais que o adolescente esteja muito abaixo de seu peso, ele sempre terá como objetivo a perda de peso. No início, o sujeito começa eliminando do seu cardápio alimentar as comidas consideradas mais gordurosas, com mais carboidratos e passando a se alimentar apenas de frutas, verduras e água. 

Outra questão relevante na anorexia nervosa é a obsessão por exercícios físicos, ou seja, após uma refeição a anoréxica pensa que engordou um horror por ter se alimentado de alface ou tomado um copo de água, essa sensação só se acalma quando vai para academia fazer exercícios para perder calorias, e por mais fraca que esteja ela precisa fazer exercícios físicos para “perder a gordura” que não existe. 

Outro transtorno consequente do social, da mídia, segundo Tommasco (2003), é a vigorexia, cuja obsessão refere-se ao ganho de músculos e o sujeito se vê sempre fraco. Para o mesmo autor, devido ao excesso de exercício físico, o adolescente chega, muitas vezes, a ocasionar lesões musculares, e quando se olha no espelho fica insatisfeito com a imagem refletida, indo então em busca do que acha ser o corpo ideal, se espelhando no corpo dos pugilistas e modelos musculosos. Nessa busca incessante por um corpo cheio de músculos, o adolescente passa a ingerir anabolizantes hormonais, suplementos e, tudo o que possa aumentar a sua massa muscular.

Desta forma, é possível ver que a obsessão pela malhação na adolescência não ocorre apenas para emagrecer, mas também para criar músculos. E esta obsessão não é nada mais do que o reflexo da ditadura da beleza imposta ao adolescente, onde a mídia coloca propagandas com “corpos perfeitos”, modelos super magras, homens extremamente musculosos, e o ex infans em crise com sua identidade, subjetividade, e à procura de uma, passa a idealizar aquela imagem, pois pensa que se for como tal será reconhecido, terá vantagens no grupo, passando então, a afastar-se de sua imagem real, indo à procura do que acha ser o corpo ideal, que é ficarem como as modelos da televisão, os pugilistas, etc., e não percebendo as consequências que esta busca incessante pelo corpo ideal traz.  

REFERÊNCIAS
CAMPAGNA, V. N. & SOUZA, A. S. L. Corpo e Imagem Corporal no Inicio da Adolescência Feminina. Boletim de Psicologia, V. l, N. 124, P. 09-35, 2006.
FERNANDES, M. H. Transtornos Alimentares: Clínica Psicanalítica. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2006.
TOMMASCO, M. A. Beleza Ideal. Ciência & Vida Psique. São Paulo: Escala,  N.7, P. 54-61, 2003.



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